quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

PARA GOSTAR DE LER

A Princesinha Medrosa (Odilon Moraes)



      Era uma vez uma princesinha que tinha muito medo do escuro. Então ela ordenou que todas as luzes do palácio ficassem acessas dia e noite...

... e depois que fizessem o mesmo com todas as luzes da cidade...
... e ainda que o próprio sol brilhasse o tempo todo em seu reino. Mas havia outra coisa que também a afligia: tinha medo de ficar sozinha. Então ordenou a todos que viessem dormir dentro dos muros do palácio.
     Mesmo assim, não conseguiu passar muito tempo sossegada. Tinha medo da pobreza.
     Então ordenou que todos trabalhassem mais e mais para que nunca faltasse nada no reino.
     Mas, apesar de todas as ordens, não parava de pensar:
     "E se as luzes se apagarem?",
     "E se as pessoas forem embora?",
     "E se algum dia eu precisar de algo mais caro que toda a riqueza que tenho?".
     Seu medo de as luzes se apagarem foi se tornando maior do que o medo do escuro (que ela nem se lembrava mais o que era).
     E o medo de as pessoas irem embora se tornou maior do que o medo da solidão (que ela nem sabia mais o que era).
    E o medo de perder todo aquele tesouro tirava suas noites de sono, embora ela dormisse rodeada das maiores riquezas do reino.
    Aconteceu que, um dia, num de seus passeios matinais (pode ser que fosse noturno, pois como o sol brilhando o tempo todo ninguém sabia mais o que era manhã, tarde ou noite), ela se perdeu da comitiva e, desesperada, embrenhou-se na mata até encontrar alguém que pudesse ajudá-la.
    Ao chegar a uma pequena nascente, deu com um garoto que descansava de um dia de trabalho.
    "O que você faz aqui?", ela perguntou.
    "Conto as estrelas", respondeu o garoto.
    A princesa estranhou e olhou para o céu.
    "Mas como você pode ver as estrelas, se está claro?"
    "Ah! Eu fecho os olhos e escuto elas brincando no burburinho da fonte. Escute!"
    A princesinha deitou-se ao lado dele e pôde ouvir a alegre cantoria das estrelinhas. O cantar era tão envolvente que ela acabou dormindo.
   Quando acordou, viu que seu amigo havia partido. Sentiu medo de estar sozinha, mas concentrou-se na tarefa de voltar e...
... seguindo o leito do rio, chegou sem problemas até seu palácio, onde todos a esperavam ansiosos.
   Encarregou, então, os arquitetos do reino de construir uma linda fonte para poder dormir sempre ao som das estrelas, e segura em seu palácio.
   Mas o que houve foi que, com todos os barulhos dentro das paredes do palácio, não dava para distinguir o que era o simples ruído das águas do que era a cantoria das estrelas.
   Decepcionada, depois de alguns dias resolveu procurar o garoto para saber o segredo de sua fonte.
   Encontrou-o no mesmo lugar, e assim que chegou foi novamente convidada a deitar-se ao seu lado.
   E ela dormiu um sono tão profundo que não só pode ouvir as estrelas como também brincou com elas, dançou com elas e até aprendeu a cantar suas músicas.
   Dessa vez, ao acordar, não sentiu aquele frio na barriga. Apenas se levantou disposta e tomou o rumo de casa.
   Hoje, enquanto os sábios do reino passam dias e dias examinando a fonte de pedras preciosas esperando ouvir estrelas de que a princesinha tanto fala, ela caminha todo final de dia para dentro da mata.
   Não tem mais medo do escuro, pois é nele que brinca com suas amigas estrelas.
   Mesmo recolhida em seu quarto, não tem mais medo de ficar sozinha: as árvores, as pedras, o céu, a terra e as galáxias estão com ela...
...e o dinheiro, bem ela deixou que seus ministros tomassem conta dele e o dividissem com os mais necessitados.
    Só tem um medo de vez em quando: é do fundo do rio (mas isso todo mundo tem).
    Basta que seu amigo lhe estenda a mão e ela entra contente para brincar na água.
    Depois de se divertirem bastante ela volta ao palácio...
... para dormir quando o sono chega...
... e acordar no dia seguinte junto com o sol (que agora voltou a ter descanso nas noites).

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